Lu Aiko Otta
Beatriz Abreu
Agência Estado
O governo conta com a construção civil e com a vedete do momento, o etanol, para alcançar um crescimento mais vigoroso em 2007 e deixar para trás a expansão de apenas 2,9% alcançada no ano passado. Na avaliação da equipe econômica, esses dois setores deverão ser destaque neste ano, ao lado de um novo impulso nos investimentos por causa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
A crença entre os economistas do governo é que será alcançada a taxa de 4,5% prevista no programa. No mercado, a projeção é mais modesta: 3,5%, segundo pesquisa semanal do Banco Central com mais de 100 instituições financeiras.
O governo está particularmente otimista porque o principal indicador dos investimentos no País, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), cresceu 6,3% no ano passado, segundo números divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Uma taxa de investimento forte significa mais musculatura para o crescimento econômico.
Também foi recebida com alívio a expansão de 3,2% no setor agrícola no ano passado, depois da crise de 2005. O governo quer que o agronegócio volte à condição de motor da economia. Nesta semana, o ministro da Agricultura, Luis Carlos Guedes Pinto, vai reunir-se com seguradoras em São Paulo para criar um seguro agrícola, antiga reivindicação do setor.
Outro motivo para esperar desempenho mais vigoroso este ano é o fato de a economia ter crescido 1,1% no último trimestre de 2006. Mantido o ritmo, a taxa chegaria a 4,4% neste ano.
A grande incógnita para o crescimento de 2007 é o PAC. Um integrante da equipe econômica reconhece que ainda é grande a dúvida do empresariado quanto à sua implementação. Por isso, o programa ainda não teve o efeito catalisador dos investimentos privados que se esperava. A pergunta que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mais tem ouvido ultimamente é se o PAC, afinal de contas, é para valer.
O programa prevê, por exemplo, a suspensão dos tributos cobrados sobre novos investimentos em infra-estrutura. É algo que já poderia estar produzindo efeitos práticos, mas nada aconteceu porque a Receita Federal ainda não emitiu a regulamentação necessária.
O governo tampouco conseguiu imprimir a velocidade que desejava nos investimentos públicos. Só nesta semana será instalado o Comitê de Acompanhamento, responsável por assegurar que as obras não ficarão paradas por problemas burocráticos. Outro indicador de lentidão do PAC foi o anúncio feito na sexta-feira (2) pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Ele deu um prazo até o início do segundo semestre para que os Estados e municípios apresentem seus projetos de saneamento e habitação a serem incluídos no programa.
O próprio Lula reconheceu que ainda é preciso convencer os agentes econômicos sobre o PAC.
JURO E RENDA
Os fatores que animarão a economia este ano já estavam presentes em 2006: a taxa de juros em queda e o aumento da renda média do brasileiro. São eles que vêm puxando a construção civil desde o ano passado. Ao mesmo tempo em que, o trabalhador tem mais dinheiro, os financiamentos estão ficando menos caros e mais longos. Por isso, no ano passado o setor teve desempenho superior à média da economia, crescendo 4,5%.
Este ano, por causa do PAC, a expansão poderá chegar a 6%, segundo a economista Amarilis Romano, da Tendências Consultoria Integrada. "Poderia ser bem mais." Ela acredita que as obras previstas no PAC só começarão a ser realizadas na segunda metade do ano, por isso o programa não terá todo o impacto que poderia sobre a construção civil. Mais importantes ainda são as "travas" no setor de saneamento, que deixarão os projetos num ritmo bem mais lento do que o desejado.
Mais renda e juros em queda deverão também animar o varejo neste ano, avalia o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Edgar Pereira. "A questão é saber se isso vai se traduzir em mais empregos." No ano passado, o consumo também teve taxas de crescimento, altas, de 3,8%.
No mesmo período, a produção industrial cresceu apenas 1,9%. Ísso indica que parte do consumo do brasileiro foi atendido com produtos importados. Pereira acha que a história pode se repetir este ano, a menos que o Banco Central acelere o ritmo de corte na taxa de juros. Se o juro cair mais rapidamente, o dólar ficará menos barato em relação ao real e, com isso, as importações se tornarão atraentes.
ACÚCAR E ÁLCOOL
O setor de açúcar e álcool, por sua vez, deverá ter um impulso maior após a visita do presidente americano, George W Bush, ao Brasil que ocorreu na última semana. Mas desde 2006 já vem dando mostras de vitalidade graças ao preço "estupidamente alto" alcançado no mercado internacional. As exportações brasileiras de etanol, informou Amarilis Romano, cresceram 31,4% em volume no ano passado. As receitas obtidas com a venda, porém, aumentaram 112% graças ao preço elevado. O mesmo aconteceu com o açúcar. O volume vendido aumentou cerca de 4%, mas o faturamento em dólar saltou 57,4%. Para este ano, ela acredita que o mercado continuará favorável. "Talvez não tenhamos uma aceleração tão grande de preços", comentou. No entanto, os Estados Unidos continuarão precisando do produto brasileiro, pois sua produção local não será suficiente para atender toda a demanda.
COMÉRCIO
O ritmo mais acelerado da economia neste início de ano está sendo puxado por alguns segmentos do comércio, pela construção civil e também pelo agronegócio, que parece ter começado a sair da crise vivida nos últimos dois anos e meio.
As Casas Bahia, maior rede de varejo de eletroeletrônicos e móveis do País, faturou R$ 1,5 bilhão em janeiro e fevereiro, o que representa aumento de 10% em relação ao primeiro bimestre de 2006. Descontando-se as 49 novas lojas que foram inauguradas entre os dois períodos, o crescimento foi de 6%.
"O ano começou bem, vendemos de tudo, principalmente computadores", diz Michael Klein, diretor-executivo das Casas Bahia. Com a redução nos preços provocada pela desoneração tributária estabelecida pela MP do Bem, a rede vendeu 100 mil PCs no bimestre, três vezes mais do que em igual período do ano passado.
Klein conta que o movimento aumentou também no Sul, puxado pela recuperação do setor agrícola na região, que sofreu quebra de safra em 2006, por causa da estiagem. "As chuvas dos últimos meses ajudaram a melhorar a confiança dos consumidores da região"
Além das chuvas, os agricultores brasileiros estão sendo beneficiados pela elevação das cotações internacionais, o que acaba se refletindo nos preços domésticos. No mês passado, os preços estavam, em média, 20% maiores em relação aos de fevereiro de 2006, segundo o índice da MS Consult.
Entre os produtos que tiveram maiores altas estão frango (47%), milho (37%) e trigo (30%). "Isso vai se refletir numa melhora da rentabilidade e da liquidez do setor", diz Fábio Silveira, sócio-diretor da MS Consult. Pelos seus cálculos, a renda agrícola deve ter crescimento real de 7% (descontado a inflação) este ano, 2% em 2005 .
A venda de veículos também está aquecida. No bimestre, o varejo vendeu 299,7 mil unidades 14,9% acima do mesmo período de 2006. Dados da Associação Comercial de São Paulo mostram que as vendas a prazo cresceram 4,8% no bimestre. Nas vendas com cheques, a alta foi de 2,3%.