Na tentativa de barrar a ida do aterro sanitário para Guaxuma, a associação dos moradores do bairro se articula com lideranças de outras localidades do Litoral Norte para realizar manifestações e um abaixo-assinado. Domingo passado, eles panfletaram em Jacarecica. Neste fim de semana, eles prometem atuar no Riacho Doce e Garça Torta.
"O objetivo é reabrir o debate com a prefeitura. Nossa preocupação maior é com o meio ambiente. Temos muitas bacias, não queremos que Guaxuma vire a Cruz das Almas, onde o mar e os rios estão condenados”, diz o presidente da associação, William Salim. "O Estatuto das Cidades frisa que se o lugar não tem infra-estrutura, a expansão urbana não pode ocorrer e é exatamente isso que querem fazer aqui. O setor imobiliário tem mais condições de influenciar o poder público", diz o professor Andreas KrelI.
Moradora do Litoral Norte há 29 anos, a arquiteta urbanista Regina Coeli faz referência ao parecer elaborado pelas ONGs ambientalistas, representadas no Conselho Municipal de Proteção ao Meio Ambiente (Compram) – que emitiu licença do aterro para Guaxuma dia 9 de março – pela ONG Eco Engenho. O parecer é favorável à região do Meirim, frisando que o aterro não pode ser instalado em área urbana. "O aterro não pode oferecer riscos aos moradores, recursos hídricos e orla", diz, explicando que "a micro localização das duas áreas não foi mapeada adequadamente e nem foram realizadas novas sondagens para reconhecimento do perfil do solo e subsolo no local previsto para a implantação do aterro". Ela cobra a realização do Estudo de Impacto de Vizinhança.
MERCADO IMOBLIÁRIO
Os empresários da construção civil também estão preocupados com a possível instalação do aterro em Guaxuma. Segundo Glênio Cedrim, presidente em Alagoas da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), os investidores estão apreensivos. "Por mais que, tecnicamente, o aterro seja seguro, a sua existência em Guaxuma é um ponto negativo para o desenvolvimento turístico", diz, sem precisar a quantidade de projetos em andamento para o local.
Presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi), Jubson Uchôa diz que entidades do setor solicitaram audiência com o prefeito Cícero Almeida e afirma que já existem vários prédios de 15 andares aguardando licença. Segundo ele, cada projeto buscará solução individual para a carência no saneamento da região.
Obra deve ter vida útil de 20 anos
PATRYCIA MONTEIRO
Repórter
Embora seja considerada por especialistas a melhor solução em termos de tratamento de lixo, os aterros sanitários ainda não estão plenamente difundidos no País. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PSNB), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano 2000, o lançamento de resíduos sólidos a céu aberto, os famosos lixões, são a alternativa utilizada por 63% das comunidades brasileiras. Os aterros controlados representam 18% do tratamento do lixo nacional e os aterros sanitários 14%.
Os lixões são lugares onde é descarregado de forma desordenada o lixo, sem tratamento adequado. Nele podem ser encontrados catadores que recolhem materiais plásticos, papelão e latas de alumínio para revender para empresas de reciclagem.
Já o aterro controlado é um antigo lixão com algumas melhorias. Mas não conta com sistema de drenagem do chorume – líquido preto resultado da decomposição do lixo – nem impermeabilização do solo.
"O aterro sanitário é uma obra de engenharia com normas operacionais específicas que garantem o confinamento seguro em termos de poluição ambiental e proteção à saúde pública. Isso sem mencionar que é o método de menor custo entre todos os de destinação sanitária de resíduos sólidos", define Nélia Henriques Callado, professora do Centro de Tecnologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Ela foi uma das pesquisadoras envolvidas no levantamento que subsidiou a Prefeitura de Maceió na escolha dos terrenos.
No aterro são escavadas áreas, chamadas de células, para receber o lixo. Elas são impermeabilizadas, para depois receber uma manta plástica de alta resistência. Nela são colocados os resíduos, compactados por tratores para só então ser enterrado.
No aterro são colocados drenos de gás para evitar que o lixo entre em combustão espontânea. Já a drenagem e o tratamento do chorume são imprescindíveis para reduzir os impactos ambientais. No futuro aterro sanitário de Maceió, o chorume drenado e tratado vai ser descartado no emissário submarino.
Os resíduos sólidos serão dispostos em camadas sobrepostas que formam montes de até 25 metros.
O tempo de vida útil previsto para o aterro sanitário de Maceió é de cerca de 20 anos, com volume estimado de 7,8 milhões de toneladas de resíduos.