Para eles, a implantação de um aterro no bairro traria riscos e prejuízos ao setor imobiliário, comprometendo futuros investimentos no promissor Litoral Norte do Estado. O problema agora se concentra nos novos "lixões" de Maceió, em virtude da morosidade para a desativação do Lixão de Cruz das Almas, cuja vida útil e capacidade de armazenamento há muito se esgotou.
Em diversos locais da capital, terrenos baldios já são a melhor escolha para depósito de lixo clandestino. Em plena avenida Júlio Marques Luz, no bairro de Jatiúca, o lixo ganha um terreno "esquecido" pelo dono e é motivo de dor de cabeça para lojistas de uma galeria situada na travessa Pio XII. Eles já presenciaram, inclusive, um princípio de incêndio provocado por um carroceiro que queimou restos de papelão no local. "Isso sem falar no perigo’ que é passar por esta rua à noite", denuncia uma moradora, referindo-se ao local como esconderijo de assaltantes.
Já no bairro do Farol, água empoçada e até uma privada podem ser vistos na Francisco Freire. O terreno – vizinho a o centro médico Sanatório, em frente a uma garagem da Superintendência Municipal de Obras e Urbanização (Somurb) -, segundo denúncia de moradores, está tomado pelo mato já há bastante tempo, atraindo assim a atenção de quem prefere jogar o lixo no lugar errado.
Para a Superintendência de Limpeza Urbana de Maceió (Slum), o problema reside na falta de conscientização da maioria, embora o superintendente Lauriano Omena garanta que o órgão realiza mutirões de limpeza permanentemente, assegurando ainda que a Slum trabalha para conquistar o direito de notificar e punir os proprietários de terrenos que não possuem cerca ou grade de proteção.
Antes do início das obras em Guaxuma – ainda sem previsão, devido a impasses como a resistência de proprietários de terrenos no local do futuro aterro quanto ao levantamento topográfico feito por técnicos da Superintendência Municipal de Controle do Convívio Urbano (SMCCU) -, uma nova célula de acondicionamento do lixo domiciliar no Lixão de Cruz das Almas deve ficar pronta em 30 dias.
ACÚMULO DE LIXO
A Slum realizou, semana passada, um mutirão de limpeza nas praias da região Norte da capital. Uma equipe de 25 agentes esteve empenhada em atividades como varrição, capinação e retirada de entulhos, buscando evitar o acúmulo do lixo nesta época de fortes chuvas. Os agentes de limpeza atuaram nas praias de Guaxuma, Ipioca, Pescaria, Jacarecica, e no Loteamento Sauaçuhy.
Segundo o diretor de Planejamento da Slum, José Roue da Silva, o órgão escolhe um ponto da cidade – onde serão concentradas as atividades da semana. Mas as ações, como denunciam moradores e comerciantes de áreas afetadas pela sujeira, não vem sendo suficientes. A falta de conscientização da própria comunidade é Citada pela Slum como um agravante. Na Rua Professor Lauro Costa, em Cruz das Almas, um terreno tomado por coqueiros, e agora também por entulho, atormenta quem precisa transitar pelo local.
PREJUDICADO
Um dos prejudicados é o ambulante José André dos Santos, que comercializa bebidas no local há mais de quatro anos. "A situação persiste desde que resolvi trabalhar por aqui. Diariamente, vejo caminhões despejarem entulhos", revela o ambulante, que diz também ter flagrado um funcionário de um restaurante do bairro depositar lixo no local.
"Vem gente até de outros bairros deixar lixo neste coqueiral", confirma o gari Sebastião de Lima, acrescentando que de nada adianta o trabalho de limpeza urbana, já que, em poucas horas, o lixo clandestino volta a tomar o local. "Eu sempre limpo a área que sujo, mas a maioria não tem essa consciência", ressalta José dos Santos, que já lamenta o prejuízo. "Comecei a perder clientes. Na semana passada, gastei R$ 60 para minimizar o problema, mas não tenho condições de fazê-Io de novo. Espero que os órgãos competentes pelo menos afixem alguma placa, alertando sobre o risco de punição para o infrator", resume o ambulante. "Até limpam, mas sempre aparece alguém logo depois para estragar o serviço", conta.
Já no bairro do Farol, um outro terreno baldio atormenta os moradores e comerciantes da Rua Francisco Freire. Ironicamente, o trecho fica em frente a uma garagem da Superintendência Municipal de Obras e Urbanização (Somurb). "Trabalho aqui há dois anos, e sempre foi assim: muito lixo e água empoçada, tudo ao lado de um centro médico", diz Maria de Cássia dos Santos, funcionária de um salão de beleza. "Há cerca de dois meses arrancaram a cerca. Já denunciamos a vários órgãos da Prefeitura, devido inclusive aos focos de dengue no local, mas o problema continua", acrescenta Maria de Cássia. Ela diz ainda que são recorrentes os casos de vizinhos que adoecem, muito provavelmente em decorrência da quantidade de mosquitos no local. "O mau cheiro também vem afetando o comércio nesse trecho", emenda.
Procurado pelo Primeira Edição, o superintendente Lauriano Omena prometeu solucionar os problemas nos trechos citados, mas, uma semana depois, ainda podia se ver lixo em ambos os locais. E o lixo ganha até bairros nobres. "A questão parece ser cultural, mas é alimentada pela certeza da impunidade. Diariamente, pessoas chegam aqui e despejam lixo com carrinhos de mão, até mesmo na calçada. Por isso, se não houver fiscalização, vamos continuar com medo de passar por aqui à noite", denuncia a proprietária – que preferiu não se identificar, por temer represália de um sem-teto que construiu um barraco no terreno baldio – de um ponto comercial na travessa Pio XII, em Jatiúca.
"Ontem [quarta-feira, 1°] mesmo, resolveram queimar papelão e por pouco não presenciei um incêndio. Foi preciso chamar o Corpo de Bombeiros", contou uma vizinha da comerciante.
Slum trabalha no projeto do aterro
Em abril, a imprensa alagoana acompanhou uma comitiva de 30 líderes comunitários – além de autoridades municipais – à Bahia, onde conheceram o Aterro Sanitário Metropolitano de Salvador, que opera na região desde 1998 e é considerado um exemplo para o Nordeste – já que a capital baiana li¬vrou-se do antigo lixão e ganhou um parque sócio-ambiental (com 63 hectares de área, onde se desenvolvem diversos programas de geração de emprego e renda, além de outras atividades que tomam o aterro auto-sustentável).
O diretor de operações da Slum, Ernande Baracho, diz que a intenção também é construir um parque sócio-ambiental na área do Lixão de Cruz das Almas. Segundo ele, o fato de a área (23 hectares) destinada à implantação de um aterro em Maceió ser inferior à de Salvador é um dos fatores positivos ao projeto. "O impacto existe, mas é preciso que as pessoas se conscientizem de que o aterro é importante e seguro", ressalta o superintendente Lauriano Omena, sobre o temor do setor imobiliário em relação ao local escolhido pela Prefeitura de Maceió, cujo projeto prevê um gasto inicial R$ 4 milhões.
Para a escolha do local de implantação do projeto, a Prefeitura realizou um estudo que apontou a viabilidade técnica de 16 áreas. As três melhores posicionadas no ranking estão localizadas nos bairros do Benedito Bentes, de Guaxuma, e em Marechal Deodoro. "Se for necessário visitarmos outras localidades com experiências semelhantes, assim o faremos", destacou, quando da viagem a Salvador, o secretário de Comunicação de Maceió, Marcelo Firmino.