Grande destaque do PIB, o investimento de indústrias, agricultura e do setor de construção civil cresceu 16,2% no segundo trimestre, frente a igual período do ano passado, na maior alta em 12 anos, desde que teve início a atual série histórica do IBGE. No ano, a formação bruta de capital fixo (gastos com máquinas e equipamentos mais construção civil) acumula alta de 15,7%, também a maior taxa semestral da série do IBGE.
Para especialistas, as informações indicam que o empresário está confiante na economia brasileira. E a alta dos investimentos podem dar continuidade ao crescimento sustentado do país.
– O investimento vem crescendo a dois dígitos desde o terceiro trimestre de 2006. E está nesse patamar de expansão entre 15% e 16% nos últimos quatro trimestres – disse o coordenador de Contas Nacionais do IBGE, Roberto Olinto.
O instituto destacou que contribuiu para a alta dos investimentos no segundo trimestre uma expansão do crédito para empresas de 41,3% nesse período. Além disso, apesar da alta recente dos juros pelo Banco Central, em média, a Selic estava em 11.7% no segundo trimestre de 2008, contra 12,3% do mesmo período do ano passado.
Sem investimentos, PIB teria crescido só 4% no semestre
Dos R$ 716,92 bilhões gerados em riquezas pela economia brasileira no primeiro semestre, 18,7% vieram de investimentos, na maior taxa já registrada desde 2000. Segundo cálculos da LCA Consultores, sem a forte expansão dos investimentos, o PIB brasileiro teria crescido apenas 4% nos primeiros seis meses deste ano – bem abaixo dos 6% registrados.
– Os números mostram que há um crescimento intensivo dos investimentos. E até agora esse crescimento sustentado afasta a tese de pressão inflacionária pela demanda – disse Rogério César de Souza, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (ledi), ressaltando que outros aspectos da economia vão bem. – Emprego e produção crescem.
Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais Trimestrais do instituto, explica que o fim da greve da Receita Federal permitiu um aumento nas compras do exterior, o que beneficiou diretamente os investimentos:
– A importação ajudou nas compras de máquinas e equipamentos, que respondem por 60% do investimento.
BNDES: investimentos fortes, apesar da crise dos EUA
O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, destacou que o crescimento dos investimentos no país vem ocorrendo desde o ano passado, apesar da crise nos EUA. A principal razão, acrescentou, é o forte mercado interno, cujas taxas de crescimento são maiores do que a da economia em geral.
– A partir do BNDES, posso testemunhar que a aceleração dos investimentos é muito firme e não vai parar.
Para o presidente do Banco do Brasil, António Lima Neto, esse cenário dá mais tranquilidade a bancos e empresas para investir.
O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) também salientou o fato de o resultado do PIB no primeiro semestre se fundamentar no aumento da taxa de investimentos.
– A taxa de 6,1% verificada no segundo trimestre vai derrotar os pessimistas.
Construção civil puxa a indústria
Volume de crédito destinado à habitação explica crescimento do setor
Após anos de estagnação, a indústria da construção civil – um dos principais setores a puxar o bom resultado da economia brasileira neste ano – vive um período de retomada dos investimentos. No segundo trimestre, a construção civil cresceu 9,9% frente a igual período do ano passado. Segundo o IBGE, a alta reflete uma expansão de 26,7%, em termos nominais, do volume de crédito destinado à habitação. Além disso, nesse período, o número de trabalhadores na construção civil cresceu 5%. Especialistas indicam ainda que as boas notícias do setor devem continuar nos próximos anos.
Segundo Roberto Kauffmann, presidente do Sindicato da Construção Civil do Rio (Sinduscon-Rio), o setor deve encerrar 2008 com crescimento de 7%. Para ele, os recursos de financiamentos explicam parte dos avanços.
– Caderneta de poupança, FGTS e setor privado devem fechar este ano com recursos para empréstimo da ordem de R$ 55 bilhões. É um volume considerável, especialmente quando se fala de um setor que vinha estagnado há alguns anos. Agora, as perspectivas são bastante positivas pelos próximos dois, três anos.
Alta de juros não deve afetar crescimento do setor
A Concal é uma das empresas que ajuda a engrossar os números do setor. A companhia está investindo na classe média em 2008: dos 11 prédios programados para serem lançados pela construtora até o fim do ano, seis são voltados para esse público. A construtora prevê crescer 200% sobre 2007, registrando um volume de vendas de lançamentos de R$ 250 milhões. Em 2007, a empresa cresceu 70% com relação ao ano anterior, registrando um volume de vendas de R$ 85 milhões. Os inves timentos da Concal em 2008 são de R$ 80 milhões.
– A maioria dos empreendimentos construídos pela Concal foi para a classe alta, com empreendimentos de alto luxo na Zona Sul do Rio – afirmou o empresário José Conde Caldas.
Segundo Kauffmann, a alta dos juros não deve frear os investimentos no setor, nem esfriar demanda aquecida de agora. Para Caldas, o mercado imobiliário não se abalou com a alta dos juros. Pelo contrário, o setor está otimista com o segundo semestre deste ano. De acordo com o empresário, os agentes financeiros estão tornando disponíveis para as construtoras até 90% do custo da produção.
– Com os problemas que têm ocorrido na bolsa e a insegurança em outras aplicações, muita gente volta a adquirir imóveis como investi¬mento, inclusive a classe média.