Paulo Safady Simão
Engenheiro, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social
Poderíamos dizer que o ano de 2009 nasceu sob o signo da esperança.
Os enormes estragos causados pela crise subprime nos Estados Unidos, que se transformou na maior crise financeira internacional, colocou a maioria dos países ricos em recessão e os países em desenvolvimento, salvo algumas exceções, em grandes dificuldades.
Tomadas as primeiras providências e depois da perda de trilhões de dólares e da falência de muitas empresas e pessoas, o mundo rompeu 2009 na expectativa da alternância na presidência dos Estados Unidos, que promete mudanças importantes e traz esperanças para todos.
Muito mais do que uma simples mudança de governo, a chegada do presidente Barak Obama promete corrigir os rumos da economia americana – e, de tabela, a de todo o mundo – e programa a definitiva inserção dos Estados Unidos na luta contra os males da emissão do CO2, fundamental para o futuro do planeta.
Assim, é com essa boa perspectiva que iniciamos o penúltimo ano da primeira década do século 21, na medida em que dispomos de melhores condições para enfrentar o grande desafio do desenvolvimento sustentável.
O conceito de construção sustentável pressupõe a forma pela qual a indústria da construção assenta suas bases para conseguir a evolução permanente e continuada do setor ao longo do tempo.
A melhor definição para desenvolvimento sustentável é aquela que defende o crescimento capaz de atender às necessidades da geração atual sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem a suas necessidades.
É o desenvolvimento que agrega a teoria dos três Ps: People, Planet e Prosperity. People, representando gente, justiça social; Planet, o ambiente, a ecologia; e Prosperity, o desenvolvimento econômico, no sentido do comércio justo e do trabalho digno.
Por consumir grandes percentuais de recursos naturais, ser responsável pelo consumo exagerado de energia elétrica e água nos edifícios que constrói e mantém (e, principalmente, pelo alto nível de emissão de CO2), a indústria da construção é sempre muito malvista em todo o mundo.
Cada vez mais, crescem as críticas e as cobranças para que o setor se enquadre definitivamente na luta em favor da preservação do meio ambiente.
É preciso deixar bem claro que qualquer empreendimento humano, para ser considerado sustentável, deve, de forma equilibrada, estar adequado ao ambiente, ter viabilidade econômica, ser socialmente justo e aceito pela comunidade. Caso contrário, terá poucas chances de prosperar.
A construção sustentável não aceita, por exemplo, uma receita única. As características e prioridades de cada lugar devem ser consideradas na elaboração de qualquer projeto.
Estudos recentes mostram que divulgar os estudos de custo de uma construção considerada sustentável, além de atrair a atenção das pessoas para o problema, tem ajudado muito na adoção de projetos completos ou mesmo de parte de procedimentos e/ou comportamento em defesa do programa.
Fica provado que as despesas que vão da concepção da obra, passando pela aprovação dos projetos, até a baixa e o habite-se definitivo, dificilmente ultrapassam 20% do custo total de um empreendimento, quando se considera sua vida útil.
Ou seja, em torno de 80% do custo de um edifício, ao longo de sua vida útil, é gasto com manutenção, consumo de água, energia elétrica, telefone e a compra de bens duráveis.
Além do mais, a capacidade que temos de interferir para reduzir o consumo dos diversos serviços tende a diminuir com a passagem do tempo.
Daí a importância da construção sustentável, que incorpora em sua concepção os conceitos de redução de consumo de itens geralmente utilizados ao longo da vida de um edifício, o que significa menor custo.
Para encerrar, gostaria de comentar os estudos recentemente realizados pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, por solicitação da OIT (Organização Internacional do Trabalho), que tratam do conceito de construção sustentável com a sugestiva denominação de Green Job.
Esses estudos demonstram que os edifícios são responsáveis pela emissão da grande parte (quase 40%) do volume de dióxido de carbono (CO2) lançado hoje na natureza. E mais: que os edifícios antigos são, na realidade, os grandes vilões.
O chamado Green Job propõe aos países que adotem um programa para reformar seus prédios antigos, como forma de contribuir, via indústria da construção, para o combate às causas do efeito estufa.
Além disso, o programa seria também um fator de grande incentivo à geração de emprego e renda, num momento de desaceleração da economia mundial.