Pelo terceiro mês consecutivo, o IGP-M encerrou maio com deflação de 0,07% – após resultados negativos de 0,15% de abril e de 0,74% em março – segundo os números divulgados ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV).
Esta é a quinta taxa negativa em seis meses – entre dezembro e maio, somente fevereiro teve índice positivo, de 0,26%. O índice, que é utilizado no reajuste dos aluguéis, já acumula deflação de 1,14% no ano. No acumulado dos últimos 12 meses, registra alta de 3,64%, taxa bem abaixo dos 15,12% acumulados em julho do ano passado.
Segundo representantes do setor imobiliário, os inquilinos serão beneficiados no momento de renegociar os aluguéis este ano, já que os proprietários de imóveis deverão aplicar apenas o acumulado pelo IGP-M ou até menos que isso.
– No fim do ano passado tivemos uma situação atípica do IGP-M (em alta), que não se configurou em tendência. Naquele momento, alguns proprietários decidiram não negociar reajustes nos aluguéis para não perder inquilinos. A partir de junho deste ano, quem eventualmente já reajustou com base no índice do ano passado vai negociar até uma redução – diz Rodolpho Vasconcellos, conselheiro da Associação dos Dirigentes das Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi).
Vasconcellos destaca ainda que os proprietários que têm no aluguel uma única fonte de renda vão ceder no momento da negociação, com receio de perder o inquilino. Ele lembra que as condições de crédito para aquisição da casa própria estão mais atraentes, mais um fator de vantagem para o inquilino.
– Quem hoje aluga pode se interessar pelo financiamento de um imóvel próprio. Não é hora de perder inquilinos.
Carlos Samuel de Oliveira Freitas, diretor de Locação da Associação Brasileira das Administradoras de imóveis (Abadi), também acredita em renegociações a partir do mês que vem.
– Para bons inquilinos, a negociação é sempre aberta. E como temos deflação, acredito que teremos também uma redução no aluguel, já que o índice vem reduzindo ao longo dos meses. Mas vale dizer que a maioria dos aluguéis está dentro dos patamares do mercado.
Para FGV, quedas do IGP-M estão chegando ao fim O comportamento dos preços dos produtos in natura, com queda de 5,31%, foi determinante para manter o IGPM negativo em maio. Mas para o economista Salomão Quadros, coordenador do índice da FGV, a fase de deflação do IGP-M, consequência da recessão global, está chegando ao fim, indicando que as economias brasileira e mundial estão retomando o nível de atividade.
A expectativa, segundo ele, é que a virada para um índice positivo aconteça no mês de junho.
– Com a melhora da atividade econômica, há espaço para a recuperação dos preços dos insumos e produtos industriais – disse Quadros.
O Índice de Preços ao Atacado (IPA), que representa 60% do IGP-M, onde estão os produtos e insumos industriais, encolheu 0,30% em maio, queda menor que o 0,44% de abril. Quadros lembra, porém, que essa recuperação dos preços poderá ser atenuada pela valorização do câmbio, que deverá manter o IGP-M "controlado".
– O dólar saiu da neutralidade e é mais um fator para atenuar o movimento de alta do IGP-M – afirmou Quadros, lembrando que os preços vão subir, mas em um ritmo menor por causa da valorização do real.
O economista da consultoria Tendências Jean Barbosa avalia que esse movimento de retomada da inflação brasileira está relacionado a uma certa estabilidade nos preços internacionais de commodities e ao enfraquecimento da queda dos preços internos. Segundo ele, o nível de atividade enfraqueceu muito rapidamente, e sua recuperação não se dará no mesmo ritmo.
– É difícil observar um cenário de inflação a curto prazo que traga alguma preocupação – disse Barbosa, que espera uma recuperação mais significativa dos preços a partir do segundo semestre. – Mas nada que faça a inflação sair da meta prevista pelo governo.
