Em tempos de crise, a maior preocupação dos setores produtivos é com a paralisação do crescimento econômico, desemprego e recessão, entre outras. Mas a crise financeira deflagrada no fim do ano passado trouxe, pelo menos para nós do setor de construção civil, uma outra crise: a falta de mão de obra qualificada no setor. A construção civil sempre teve um grande número de trabalhadores com baixa escolaridade e sem qualificação, o que, de certa forma, reforça o aspecto social do setor, capaz de absorver essa mão de obra, em princípio, com poucas oportunidades no mercado de trabalho. O seu aprendizado ocorria no dia a dia, numa época em que a formação desses profissionais era feita no próprio canteiro de obras.
Os tempos mudaram e a modernização também chegou ao setor. A competitividade e a concorrência passaram a exigir das empresas processos construtivos mais adequados e obrigaram as construtoras a uma nova dinâmica: produzir mais em menor tempo e com mais eficiência, reduzir o desperdício e minimizar os seus custos. Tudo isso, sem perder de vista a excelência de seus produtos e com preços mais atraentes e acessíveis para o comprador.
É estranho, mas o fato é que, hoje, temos pessoas desempregadas, vagas ociosas e poucos profissionais preparados para assumi-las. Pensando que um dia esse quadro se tornaria real, o Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG) já desenvolve, há anos, ações na área de educação. Na busca da erradicação do índice de analfabetismo no setor, desde 1991 o Sinduscon-MG, aliado ao Seconci-MG, nosso braço social, e ao Sesi/Fiemg, desenvolve o Programa de educação de jovens e adultos – EJA, com turmas de 1ª a 4ª e de 5ª a 8ª séries; requalificação, sem custo para os nossos operários, por meio de convênio com a Universidade Fumec, com cursos de pedreiro de alvenaria e acabamento, bombeiro hidráulico e eletricista; e, ainda, cursos variados oferecidos pelo nosso Centro de Treinamento.
Atentos a essa demanda crescente o Sinduscon-MG, a Fiemg e a PUC Minas, por meio do Instituto de Educação Continuada, lançaram este ano o curso de pós-graduação lato sensu gestão estratégica em construção civil. Além disso, o Sinduscon-MG está apoiando e procurando alocar os 457 profissionais formados no âmbito do Programa Bolsa Família, alunos do Plano Setorial de Qualificação – Construção Civil (Planseq). Essa capacitação de mão de obra faz parte de uma parceria do governo federal com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), que tem por objetivo construir uma saída do projeto social e o ingresso em uma carreira profissional, dentro da formalidade.
Uma das características desses alunos é que mais de 60% dos novos formandos são mulheres em todo os cursos oferecidos – pedreiro, bombeiro, eletricista, pintor, auxiliar de escritório/almoxarife. São novos tempos e, na falta de operários, as operárias encontram espaço. A delicadeza do trabalho feminino na fase de acabamento, principalmente, pode ser um diferencial das mulheres para ocupar esse nicho do mercado.
Reconhecemos que ainda há muito que se fazer e que essa tarefa deve ser contínua. É essencial que os dirigentes e empresários, não só da construção, mas de todos os setores da nossa economia, se conscientizem para a importância de se investir em seus colaboradores e na educação desses profissionais, criando uma nova cultura no meio empresarial. Não adianta ter trabalho sem ter pessoas qualificadas para assumi-lo.
*Vice-presidente da área de comunicação social do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG).
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