Mercado residencial, comercial e a ampliação e implantação de hotéis têm sido chamarizes
Os efeitos da queda do valor do dólar no mercado imobiliário brasileiro são mínimos. O setor não tem tido do que reclamar. Quem garante é a Associação para o Desenvolvimento Imobiliário e Turístico do Brasil (Adit Brasil), que, na semana passada, realizou, em Fortaleza, o Adit Invest, com a presença de dezenas de investidores estrangeiros com interesse em fechar negócios no País.
Segundo o diretor de Investimentos da associação, André Menezes, ficou evidente, após a realização do evento, o perfil desses empresários estrangeiros. "A característica desses investidores não é de capital especulativo, que aplica no curto prazo para ganhar com o câmbio e taxa de juros. Esse aí a gente não quer trazer. Pelo contrário, são projetos de empreendimentos sólidos de médio e longo prazo. Pude comprovar isso no evento", conta.
Novo olhar
Ele diz que houve uma mudança recente na forma como o mercado internacional passou a enxergar o Brasil. "Há dois, três anos, a gente ainda precisava vender o País nos encontros lá fora. Tínhamos de convencê-los que era uma boa alternativa antes mesmo de apresentar projeto. Além de sempre responder a velha pergunta ´Por que o Brasil?´ Hoje, não tem mais isso. A maioria dos investidores nos conhecem", diz, lembrando de um conjunto de fatores que ajudou nessa transformação. Entre eles, o cenário econômico favorável, a percepção de risco menor de surpresas inesperadas e a estabilidade da inflação.
Segundo o diretor, o mercados residencial e comercial, bem como a área de expansão e implantação de hotéis e resorts foram os chamarizes do evento, que sozinho, divulgou um balanço de R$ 2,7 bilhões de investimentos captados. André acrescenta que o setor imobiliário em algumas regiões brasileiras avançou mais de 250% em volume e número de transações comerciais no comparativo do primeiro semestre de 2010 ante o primeiro semestre de 2009.
"O momento é bom por toda essa conjuntura econômica aliada à aproximação aos eventos Copa do Mundo e Olimpíadas. É claro que o dólar em baixa acaba refletindo um pouco, mas os números mostram que continuamos crescendo bem", declara.
Ele ressalta que no primeiro trimestre deste ano em relação a similar intervalo de 2010, o número de passageiros e voos vindos de fora do País subiu, respectivamente, 12% e 15%. Já na comparação do ano passado com 2009, o crescimento de voos foi de 18%.
No Ceará
A Infraero divulgou que, no mês passado em relação a abril de 2010, houve um aumento no número de desembarques internacionais de 35,19%, chegando a 703,6 mil passageiros desembarcados ante 520,4 mil. O acumulado do ano é de 2,99 milhões, superando em 19,20% os resultados de similar período do ano anterior.
"O dólar fraco pode ter impactado um pouco. Já que o Brasil ficou um pouco mais caro como destino turístico. Porém, dá pra perceber que não houve queda, sim uma alta menor com índice muito bom ainda", analisa André, que fecha o raciocínio explicando que a nova preocupação dos investidores estrangeiros é quanto à infraestrutura brasileira. "Eles apontam que o desenvolvimento da infraestrutura deve ser no mesmo ritmo da evolução da economia. Pra isso, é necessário ações do governo", completa.
OBRAS REVISTAS
Empréstimos sofrem efeitos da cotação
Muitas das obras em andamento no País e projetos futuros também contam (e contarão) com recursos provenientes das instituições financeiras e de fomento internacionais. Órgãos como o Banco Mundial (Bird) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento(BID) já divulgaram que pretendem colocar à disposição do Brasil US$ 7 bilhões. O Estado já anunciou que pretende captar no exterior cerca de US$ 360 milhões ainda neste ano. Porém, com a atual cotação da moeda americana, pode ocorrer (e já estão ocorrendo) uma situação incomum para os governos federal, estaduais e municipais.
É que as obras em execução foram concebidas por projetos prontos há um ou dois anos. Logo, são prejudicadas por conta da desvalorização do dólar. Quando foram planejadas, havia uma referência cambial onde o real estava enfraquecido. Para se ter uma ideia, tomando um exemplo prático de um projeto que deveria captar 100 mil dólares no exterior, feito em 18 de maio de 2009, esse volume equivaleria a 207.800 reais, na época. Exatamente dois anos depois, 18 de maio de 2011, o valor seria de 161.600 reais. Uma diferença para menos de 46.200 reais, tendo como base as diferentes cotações.
Metrofor sentiu
Isso ocorreu com a obra do Metrofor, em Fortaleza, que tiveram seus projetos originais readequados com exclusão de determinadas especificidades do projeto para poder continuar em andamento.
O próprio presidente do Metrofor, Rômulo Fortes, declarou, mês passado, na Assembleia Legislativa, que isso ocasionou problemas no repasse e consequente demora em alguns prazos estabelecidos pelo cronograma original. Mesmo assim, ele garantiu, na ocasião, que a programação da obra continuava normalizada. De acordo com o coordenador de Cooperação Técnica e Financeira da Secretaria de Planejamento e Gestão (Seplag), Mário Fracalossi, o Ceará não foi prejudicado com essa alteração na balança comercial. "O Estado não atrasou nenhum empreendimento. A solução foi dar uma contrapartida maior da nossa parte para não paralisar as obras, e isso foi feito", comenta Mário.
Segundo ele, o contrário poderá ocorrer quando o dólar voltar a subir. "Os projetos feitos agora, com a moeda americana em queda, poderão trazer benefícios para o governo no futuro quando forem executados com o real valendo menos".
ILO SANTIAGO JÚNIOR
Repórter
Diário do Nordeste – Fortaleza