ANÁLISE ECONÔMICA
Luís Fernando Mendes
Assessor Econômico da CBIC
“A expectativa de muitos analistas financeiros de que o Banco Central sinalizaria para elevação dos juros a partir da próxima reunião do Conselho de Política Monetária – COPOM foi frustrada. A última Ata divulgada nesta quinta-feira justifica a opção pela manutenção da taxa básica em 7,25% e sugere “cautela”, um termo novo (em relação às atas anteriores) que deixa claro que as decisões futuras serão cada vez mais dependentes dos dados que serão divulgados de atividade econômica e inflação.
Em relação aos preços, o Copom sinaliza que suas projeções de inflação aumentaram em relação à reunião anterior e admite uma acomodação, acima do centro da meta, sem que isso represente – já em abril – elevações da taxa básica para conduzir a inflação para o alvo de 4,5% no ano. A Ata faz a seguinte menção: “a maior dispersão recentemente observada de aumentos de preços ao consumidor, pressões sazonais e pressões localizadas no segmento de transportes, entre outros fatores, contribuem para que a inflação mostre resistência. Embora essa dinâmica desfavorável possa não representar um fenômeno temporário, mas uma eventual acomodação da inflação em patamar mais elevado, o Comitê pondera que incertezas remanescentes – de origem externa e interna – cercam o cenário prospectivo e recomendam que a política monetária deva ser administrada com cautela”. Mesmo assim, para 2014, não há mais a percepção pelo Banco de que as projeções estão “ligeiramente” acima da meta, como foi mencionado na ata de janeiro, fato que deverá ser mais bem detalhado no Relatório de Inflação que será divulgado no próximo dia 28 de março.
Em relação ao nível de atividade externa, permanece a visão de um “ambiente complexo” com expectativas de crescimento fraco e de recuperação lenta, com menor oscilação de “humor” nas economias europeias e inicio de recuperação americana, além de maior intensificação do ritmo de atividade econômica nos emergentes. O COPOM ressalta com otimismo a acomodação dos preços das commodities nos mercados internacionais e considera como “baixa” a probabilidade de piora do cenário econômico global. Já o Brasil, ainda que não se explicite (e até se negue), há também na recente valorização do câmbio uma contribuição da estabilidade dos preços internos.
Em termos domésticos, a Ata ressalta uma elevação do ritmo da atividade econômica, ainda que em intensidade menor que a esperada e cita: “as informações recentes apontam para a retomada do investimento e para uma trajetória de crescimento mais alinhada com o crescimento potencial”. Ao mesmo tempo, a Ata não sinaliza para riscos de desiquilíbrios de oferta e demanda, fato ressaltado nas atas anteriores.
A “cautela” deve permitir observar como a economia se comportará nos próximos meses e os efeitos sobre os preços (IPCA) da redução da tarifa de energia elétrica e da desoneração da cesta básica, que foi antecipada (inicialmente prevista para maio) e superior ao que era esperado pelo mercado.
Portanto, a SELIC deverá se manter estável ao longo de 2013 e caso ocorra algum movimento de alta neste ano (apenas como sinalizador para o mercado) será em passos “homeopáticos” de 0,25 pontos percentuais por reunião com um ajuste total moderado e poucos reflexos sobre os preços relativos dos ativos.
Em linha com esta avaliação, as taxas dos contratos futuros de juros recuaram ontem, em especial nos vencimentos mais curtos, com os investidores reduzindo as apostas de elevação da Selic no próximo encontro do Copom.
Ao mesmo tempo, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), divulgado hoje registrou alta de 1,29% na passagem de dezembro para janeiro, já descontados os efeitos sazonais. Esse resultado é superior ao esperado pelo mercado (que estimava uma avanço de 0,8%) e reforça a percepção de aceleração do crescimento no primeiro trimestre.”