SÃO PAULO
Terminada a época de promoções no mercado de construção comercial e residencial – geradas pelo excesso de estoque dos últimos dois anos -, construtoras, sindicatos e analistas projetam que 2014 será um ano difícil para o empresário da construção. Entre os motivos para a queda da confiança no setor está o alto endividamento da população, a inflação em alta e os custos para construção, que estão abocanhando uma fatia cada vez maior da receita das empresas.
Segundo projeção dos Sindicatos da Construção (SindusCon) de estados como São Paulo, Ceará e Rio de Janeiro, o crescimento previsto para este ano fica em até 4%. "Mercados específicos, como estados do Nordeste, devem ter expansão de mais de 4%, enquanto regiões mais sobrecarregadas, como São Paulo e Rio de Janeiro, a projeção fica entre 2,9% e 3,3%", disse Marco Luiz Feitosa, professor de engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e consultor do escritório de advocacia Souza e Fagundes.
No Ceará, por exemplo, a projeção do Sindicato da Habitação do Ceará (Secovi-CE) e do SindusCon-CE é de um incremento de 3,5% este ano. Segundo o vice-presidente da área imobiliária do SindusCon-CE, André Montenegro, a oferta de crédito ainda está alta na região. "Apesar do déficit habitacional, há crédito em abundância", disse ele.
No eixo Rio-São Paulo, Feitosa explica que o incremento em 2013 virá das sobras dos lançamentos imobiliários apresentados nos últimos três anos. "Em 2010, quando o setor era 11% do Produto Interno Bruto [PIB], as construtoras iniciaram mais projetos demais, e houve uma oferta maior que a demanda nos anos seguintes", detalhou.
Em face a essa desaceleração, o vice-presidente de economia do SindusCon-SP, Eduardo Zaidan, prevê que o setor possa retomar o fôlego em 2014. "O desafio nos próximos meses é fechar contratos para que novas obras se iniciem quando as atuais forem concluídas", disse.
Na análise, Zaidan estimou que, para um crescimento de 2,2% do PIB neste ano, a construção deva crescer cerca de 2%. A estimativa de expansão vem sendo gradativamente reduzida desde janeiro, quando era 4%.
Projeção otimista
Enquanto o mercado imobiliário residencial passa por projeções não tão animadoras, a consultoria LCA projeta um crescimento de 3,9% para a construção em 2014, com destaque para as obras de infraestrutura.
"A construção pesada deve ser impulsionada pelos estímulos para investimentos que os Estados do país receberam", diz o economista Fernando Sampaio, sócio da empresa.
Para ele, há uma projeção de incremento nas linhas de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) também devem estimular a construção pesada.
Para a área imobiliária, no entanto, a expectativa é de expansão moderada. "A euforia de 2010 não vai voltar. O crédito está desacelerando", diz.
A desaceleração da construção já vem sendo sentida desde o ano passado, quando houve um incremento de 1,4% do setor, ante a um avanço de 3,6% e 2011 e o histórico ano de 2010, quando a alta foi de 11,6%.
Os números apurados pela LCA apontam que o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC-DI) deva fechar em 6,5% em 2013. No ano passado, ele registrou 7,1%. Já o valor da mão de obra projetada para este ano deve ficar em alta de 6,6%, pouco a cima do incremento que deverá ser verificado entre os materiais de construção (6,3%).
Para 2014, a tendência é que a situação se inverta e que os salários aumentem 4,8%, enquanto os materiais alcancem os 7%.
Para 2015, as projeções são desanimadoras