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Celulares nos canteiros de obra

8 de setembro de 2014

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ARTIGO

jornal da paraíba.COM.BR
A cena me causou arrepios. Parei o carro e, movido pela minha precaução de construtor, passei a observar, temeroso, o desfecho daquilo, disposto a interferir logo que entendesse o que acontecia. Dependurado no guarda-corpo do andaime de fachada, estacionado lá pelo vigésimo pavimento de um prédio em construção na orla da Capital, o operário, com o corpo já metade para fora do equipamento de proteção, projetava-se no vazio.
Mexia-se dentro do jaú, como é também chamada essa espécie de gaiola usada para revestir a parte externa de edifícios altos, aparentando alheamento aos cerca de sessenta metros que o separavam do chão firme. Flutuava no ar, movimenta-se para lá e para cá, agitava os braços. E demonstrava não se dar conta disso. Era do meu conhecimento, claro, ser comum em homens habituados às alturas elevadas a perda da noção do perigo. É precisamente essa negligência provocada pela rotina dos procedimentos que enfoco nos bate-papos que costumo ter com meus operários. Tem sido meu lema recorrente nessas palestras frase que encima a entrada da área operacional da usina hidrelétrica de Xingó e que, pela pertinência, assimilei para mim: “A sombra do acidente paira sobre o imprudente”.
Abro um parêntesis para dizer que o setor já avançou bastante nisso, graças às parcerias feitas pelas entidades de classe de ambos os lados, intermediadas pelo Governo. Todavia, convencer o trabalhador de que os equipamentos de proteção, como sugere a própria terminologia, visam à promoção da segurança, tanto do indivíduo como do grupo laboral, no desempenho das atividades de construção civil, setor intensivo de mão de obra e de baixa mecanização, é tarefa deveras estafante. As justificativas para o boicote são várias e criativas: as botas fazem calos, os capacetes pesam, as luvas coçam, os óculos embaçam, os protetores auriculares ensurdecem, os talabartes apertam, os cintos limitam os movimentos, entre muitas e muitas outras. Não há como negar também que há construtores que não dão a atenção que deveriam ao aspecto segurança, em especial os que se escondem sob o manto da informalidade, inalcançáveis pelos tentáculos da fiscalização, que acabam inclusive praticando a concorrência desleal com os que se submetem aos ditames da lei. Mas o fato é que não é fácil persuadir o operário a proteger-se.
Voltando ao nosso caso, entretanto, o que se descortinava ali era um extremo de desleixo. Conjecturei que o descuidado fachadeiro tencionava alarmar alguém, avisar um colega embaixo ou mesmo passava mal, quem sabe. No instante em que me preparava para entrar no canteiro e alertar o colega gestor, por certo ignorante do que se passava, notei que o operário levava algo ao ouvido insistentemente, um pequeno objeto rebrilhante, o tal celular. Disse-nos, mais tarde, que não se apercebera do perigo e lutava para melhorar o sinal da transmissão para falar com alguém em casa.
Equipando 270 milhões de pessoas no Brasil e 7 bilhões no planeta, o que significa 97% da população mundial, essas maquininhas portáteis, cujo barateamento é responsável pela expansão em nível viral, parecem ter tomado conta de todas as atividades humanas. Não há nada que se faça sem o seu concurso, cada dia mais sofisticado. Outrora exclusivas dos ricos, hoje têm planos de acesso factíveis mesmo para as menores rendas. Ocorre que, de tão multifuncionais, elas absorvem completamente a atenção do usuário, acarretando esse alheamento à realidade circundante que acometeu o protagonista de que lhes falo, felizmente sem maiores consequências.
A discussão que ora se impõe, urgente e necessária, é a quantidade de acidentes que rotineiramente são causados pelo uso inadequado dessa maravilha da tecnologia. No trânsito, por exemplo, já há jurisprudência taxando como doloso, ou seja, intencional, o desastre causado pelo uso do celular no volante. Idem nos postos de combustíveis, aeronaves e condução de máquinas pesadas. Nessa linha, urge, a meu ver, que seja interditada a utilização de celulares durante o horário de trabalho na construção civil. O exemplo que aqui relatei é bem ilustrativo de como o aparelhinho compromete a segurança.

Ligue para a sua segurança

Esse é o mote da campanha desenvolvida pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal, que acordou, com o Sindicato dos Trabalhadores, severa restrição do uso de celulares, smartphones, tablets e dispositivos similares no horário de trabalho das obras. A decisão compõe o aditivo da Convenção Coletiva de Trabalho de 2014. Para atender ou realizar uma ligação em caráter emergencial durante o expediente, o trabalhador deverá interromper a atividade que está desenvolvendo e se posicionar de forma segura, em área delimitada pelo empregador. O não cumprimento da orientação acarretará as punições previstas na Legislação Trabalhista.

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