O engenheiro e empresário da construção civil imobiliária, Raul Leite Luna, dirigente de associação de classe, foi homenageado dia 19 do mês passado, no Theatro Sete de Setembro, em Penedo, sua terra natal, quando lhe foi entregue a Comenda Grande Cruz, honraria máxima da Ordem do Mérito Barão de Penedo.
Nascido em Penedo, Alagoas, a 15 de fevereiro de 1939, Raul Leite Luna é engenheiro civil formado em 1961, pela Escola Nacional de Engenharia da Universidade do Brasil, Rio de Janeiro. Desde maio de seu ano de formatura, exerceu diversas funções na diretoria da “Gafisa”, empresa do setor imobiliário, fruto de desmembramento da construtora “Gomes de Almeida, Fernandes”, na qual começou como estagiário e à qual deve sua carreira.
Já casado com Maria Thereza, Raul começou a trabalhar, bem antes de se formar, como estagiário da Sursan (Departamento de Esgotos), no Rio, entre 1958 e 60. Naquele seu último ano de Sursan, foi convidado para a chefia do departamento, mas preferiu um estágio na “Gomes de Almeida, Fernandes”, onde explode como executivo e empresário.
Em 1962, já formado tornou-se engenheiro da empresa. Em 63 passou a vice-diretor e, no mesmo ano, já era diretor. Em 1964, diretor mais jovem da companhia, Raul foi chamado para abrir a unidade da “Gomes de Almeida, Fernandes” em São Paulo, já na condição de superintendente geral e sócio.
A unidade paulista foi um sucesso. Em 1971, ocorre a fusão entre as unidades do Rio e São Paulo, e Raul torna-se superintendente geral. Em 1976, começam as atividades da “Gomes de Almeida, Fernandes” em Salvador. Em 1979, em Nova York.
Em 1988, a companhia se subdivide em Trilux (que vai responder pelas atividades não-imobiliárias do grupo, em especial das áreas agrícola e financeira) e “Gafisa Imobiliária”. Raul torna-se presidente do Grupo.
Em 1997, acontece a fusão da “Gafisa Imobiliária” com a “GP Investimentos”, formando-se a “Gafisa”.
Pai de quatro filhos (Ricardo – 21/11/66; Maurício – 17/03/69; Rodrigo – 29/09/70 e Maria Cláudia – 19/11/75), em 1997 Raul torna-se presidente do Conselho da “Gafisa”, onde permanece até 2004. Nesse período, vai ser responsável por algumas inovações no setor imobiliário, tais como a produção de prédios financiados de alto padrão.
Foram produzidos cerca de 30 deles com acabamento neo clássico, introduzido em São Paulo pelo arquiteto Adolpho Lindenberg. Foram feitos também cerca de 40 prédios de flats por todo o Brasil, unindo a atuação do grupo no setor imobiliário (pela “Gafisa”) à do setor hoteleiro (os nove primeiros prédios foram produzidos em parceria com a “Novotel”).
Com Raul, a “Gafisa” se responsabilizou, ainda, pela produção, em São Paulo, de condomínios horizontais, unindo a vontade do paulistano de morar em casa com muito verde à segurança que oferece um apartamento.
Sua atuação ocorreu em diversos Estados e também fora do Brasil, perfazendo um total aproximado de 1.000 torres representando 9.799.795 m², assim distribuídos:
SP – 6.112.854 m²
RJ – 3.431.786 m²
EUA – 181.500 m²
BH – 73.655 m²
Os estudos
Raul fez parte do primário com a ajuda de duas professoras particulares (Ruth Mendonça e Noelinha Lessa, de Penedo) e o final no Colégio Diocesano, da mesma cidade. Os pais – Luiz Loureiro e Maria Leite Luna –, mesmo sem condições, mas exigentes nos estudos dos filhos, o matricularam então como interno no Colégio Marista de Recife, onde Raul estudou do 2o ano ginasial ao 2o do científico.
Seu sonho era morar e estudar no Rio de Janeiro, e fazer engenharia na Escola Nacional do Rio de Janeiro, mas a situação dos pais não permitia. A família fez assim mesmo um sacrifício e possibilitou que Raul fosse ao Rio para concluir o científico, mas com uma condição: que ele passasse depois no vestibular da Escola Nacional. Raul disse aos pais que não poderia assumir tal compromisso, mas àquela altura a família já estava convencida de que precisava financiar a ida do filho.
Assim, com 16 anos, Raul foi para o Rio. No primeiro dia de aula (1956), quando ia cursar o 3º e último ano do científico no Colégio Santo Inácio, uma surpresa desagradável. A direção do colégio lhe informou que as vagas eram escassas e que ele não poderia se matricular, pois até irmão de aluno antigo esperava às vezes anos para ser admitido. Raul experimenta então seu primeiro grande trunfo: convence a diretoria do Santo Inácio de que merecia a matrícula no 3o ano do científico.
Argumentou que havia sido o melhor aluno do Colégio Marista, fato verdadeiro, e que o Santo Inácio, além de ser na época o melhor colégio do Brasil, era o único que permitiria a ele cumprir a promessa que fizera ao pai, de estudar muito naquele ano e passar no vestibular da Escola Nacional de Engenharia. Estava matriculado. No ano seguinte, 1957, cursa a Escola Nacional e se forma engenheiro em 1961, período em que recebe o prêmio “Maurício Jopper”, como melhor aluno de engenharia de fundações.
Outras atividades
Raul cumpriu dois mandatos como presidente do capítulo brasileiro da Federação Internacional das Profissões Imobiliárias, a Fiabci/Brasil (2001/03 e 2003/05). No Secovi-SP, começou como diretor tesoureiro (1972 a 87), nas duas primeiras gestões de Romeu Chap Chap à frente da entidade, e na gestão 2005 cumpriu o mandato de vice-presidente do Sindicato, respondendo pelas áreas de mídia e relações externas.
Foi também vice-presidente do Rotary Clube de São Paulo (1975/79), diretor do Centro do Comércio do Estado de São Paulo (1975/77, 1978/80 e 1981/84) e presidente do “Grupo de Assistência e Participação” (GAP), da Caixa Econômica do Estado de São Paulo (1979/82). Foi ainda presidente da Federação Brasileira da Associação Cristã de Moços (1981/83).
De 1975 a 1982, ganha duas medalhas: a Medalha Anchieta, outorgada pela Câmara Municipal de São Paulo, em 29/1/1975; e a Medalha Ordem do Ipiranga, outorgada pelo Governo do Estado de São Paulo, em 25/1/1982.
Na Fiabci/Brasil
A experiência no setor imobiliário lhe assegurou visão para apostar no futuro do segmento habitacional, especialmente nas faixas de baixa renda. Por isso, Raul fez da busca de soluções para o problema do déficit habitacional do país, hoje (2008) acima de 9 milhões de unidades, a sua principal bandeira, quando na presidência da Fiabci/Brasil.
Assim, lançou a “Cruzada Fiabci/Brasil pela Habitação Popular”, esforço que buscava experiências de outros países, na produção de moradias de baixa renda, para implantá-las no Brasil. A ‘Cruzada’ foi um sucesso e resultou num plano que a Fiabci/Brasil apresentou ao Poder Público, para reduzir o nosso déficit habitacional, aproveitando as experiências bem sucedidas do México e do Chile.
Bem recebido, o plano da Fiabci/Brasil até aqui (janeiro/2005) ainda não saiu do papel, uma das grandes frustrações de Raul.
Foram quatro anos no comando da Fiabci/Brasil em defesa de financiamentos em volume e condições acessíveis às faixas populares, e também de juros que realmente coubessem no bolso do comprador.
Em sua gestão, Raul nunca deixou de ressaltar a importância da participação da Iniciativa Privada, principalmente de entidades como a Fiabci/Brasil e o Secovi-SP, na luta pela redução do déficit de moradias do país.
Fundada em 1951, em Paris, a Fiabci está hoje presente em mais de 50 países, inclusive o Brasil, e tem como missão a defesa do setor imobiliário e da construção e buscar, no exterior, para difundir nos países em que está instalada, novas alternativas tecnológicas e proporcionar a permanente aproximação e convivência entre os empresários do setor imobiliário.
Busca também promover o intercâmbio profissional, cultural, mercadológico e legal, na área imobiliária, além de oferecer oportunidades de conhecimento, aprimoramento e desenvolvimento, possibilitando a atualização e a modernização do associado.
“A Fiabci/Brasil é a entidade da globalização, e afinada com a globalização”, costuma dizer Raul.
Fundada em 1975 por José Carlos Pellegrino, seu primeiro presidente, a Fiabci/Brasil já teve como presidentes, além de Raul e Pellegrino: Luiz Carlos Pereira de Almeida, que também foi presidente da Fiabci mundial (anos de 1990), Romeu Chap Chap, Élbio Fernandes Mera, Álvaro Coelho da Fonseca e, atualmente, Ricardo Yazbeck.
Alguns depoimentos:
DEPOIMENTO DE ROMEU CHAP CHAP, PRESIDENTE DO CONSELHO CONSULTIVO DO SECOVI-SP E DA ROMEU CHAP CHAP CONSULTORIA E EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA. EM HOMENAGEM AO EMPRESÁRIO RAUL LEITE LUNA.
Há pessoas que apenas passam por nossa vida. Outras deixam impressões. Mas há aquelas que nos marcam de forma indelével, se incorporam ao nosso estado de ser, fazem parte do que somos.
Este é o caso de Raul Leite Luna, com quem tenho o privilégio de conviver há muitos anos e que se tornou um grande amigo.
Tive a oportunidade de acompanhar a trajetória pessoal, profissional e institucional deste alagoano dotado de incomum inteligência e de invejável carisma. Mais do que isso: um entusiasta, eterno otimista e homem de grande fé no Brasil.
Contemporâneos que somos – comecei a atuar no mercado imobiliário em 58 e Raul em 61, acompanhamos todos os importantes momentos da história de nossa política habitacional.
Mais do que acompanhar, influenciamos essa política, por meio de propostas ao governo, no sentido de viabilizar o acesso à moradia pelas famílias brasileiras. Trabalhamos juntos na elaboração de modelos para melhorar o funcionamento da indústria imobiliária.
Raul é daquelas figuras que cativam aos que dele se aproximam. Competente e verdadeiro em tudo o que diz e faz, nunca se negou a dividir seus conhecimentos e ajudar no progresso.
Confirma esse perfil sua magnífica trajetória na Gomes de Almeida, Fernandes Engenharia e Construções (hoje Gafisa S/A), onde começou como estagiário, no Rio de Janeiro, e chegou a presidente da Diretoria e do Conselho de Administração.
No Secovi-SP, Raul foi meu braço direito durante minhas duas primeiras gestões na presidência do Sindicato (1981/1984. 1984/1987). Também me apoiou muito quando liderei a Fiabci/Brasil, entidade que veio posteriormente a presidir de 2001 a 2005.
Empresarialmente, ele ensinou muito ao mercado. O padrão de construção, a qualidade, o atendimento, o arrojo e o sucesso da Gafisa são verdadeiros marcos na história de nosso segmento. Marcos que ele lapidou com muito trabalho, empenho e compromisso, pois sabia que imóveis são feitos para pessoas e pessoas merecem sempre o melhor.
Apesar desse brilhantismo – aplaudido e reconhecido em âmbito nacional e internacional, Raul jamais abandonou três de suas maiores características (ou qualidades): a humildade, a simplicidade e a generosidade.
Poucos são os que conseguem preservar isso, sem se deixar sombrear pelo poder e pela fama. É por isso que Raul Leite Luna será sempre admirado e estimado por todos nós. A ele só podemos dizer muito obrigado, por tudo que nos legou, por tudo que fez pelo País e pelos brasileiros.
Depoimento dr. Adolpho Lindenberg sobre Raul Luna
Graças ao seu conhecimento perfeito do mercado imobiliário paulista e ao seu espírito verdadeiramente empreendedor Raul Leite Luna conseguiu transformar a Gafisa na maior construtora de edifícios das décadas de 70 e 80. O que mais admiro nele, no entanto, é seu caráter, sua criatividade, sua fidelidade aos amigos, entre os quais me incluo.
Seus atributos são reconhecidos por todos, não constituem uma novidade.
O que eu gostaria de ressaltar, porém, é seu excepcional dom didático. Conferencista nato, bom expositor de projetos audaciosos, tornou-se figura de destaque no Secovi, em sua empresa e em todos os meios que freqüenta. A maioria dos engenheiros da Construtora Adolpho Lindenberg veio da Gafisa e sua formação profissional se deve em boa parte aos ensinamentos hauridos em sua convivência com os diretores da empresa.
Não é sem razão que sempre insisti com ele para montar um curso de extensão para engenheiros recém-formados. Fazendo votos que sua saúde se recupere, certamente voltarei a conversar com ele sobre essa possibilidade. E quem sabe esses cursos de aperfeiçoamento venham a ser o embrião de uma futura faculdade de engenharia.
São Paulo, maio de 2008.
Adolpho Lindenberg.
Depoimento de dr. Nívio Terra sobre RAUL LEITE LUNA.
No ano de 1964 tive a felicidade de conhecer um jovem engenheiro que se
tornaria um dos maiores empresários da Construção Civil em nosso país.
Ele, Raul Leite Luna, chegou a São Paulo, vindo de Penedo, como sempre
apregoava com grande orgulho, demonstrando ser grande empreendedor e,
como tal, desenvolveu a ciência e a arte dos empreendimentos imobiliários.
Neste instante, como advogado e consultor de várias empresas da área,
revejo na minha memória o profícuo trabalho do Dr. Raul Leite Luna, vencedor numa terra diversa da sua origem, criando negócios que ajudaram no crescimento e no progresso de várias regiões, notadamente da cidade de São Paulo, tanto que, em 1981, a Câmara Municipal de São Paulo lhe outorgou o Diploma de "Gratidão da Cidade de São Paulo", como expressão do reconhecimento deste Município.
Nivio Terra – OAB-SP 9.432
Evento foi organizado pela Aldebaran Urbanismo