Depois de um longo período de aquecimento, a economia global deu sinais de que chegou a hora de respirar. O que era apenas uma onda de calotes no mercado imobiliário dos Estados Unidos se transformou em uma crise mundial nos mercados de ações, de crédito e de câmbio, e os efeitos já começaram a chegar ao comércio, aos empregos, e aos principais setores da economia, que foram obrigados a tirar o pé do acelerador. No Brasil, depois de dois anos seguidos de expansão econômica perto dos 5%, o crescimento do País se rendeu mais uma vez ao pouso forçado das grandes potências. E, apesar de não haver uma previsão clara de recessão, já se espera que os percentuais de crescimento em 2009 sejam bem mais modestos.
Com o aprofundamento da crise financeira global é nítida a desaceleração das operações envolvendo ativos imobiliários em todo o mundo, assim como as simples transações de compra e venda de imóveis. Por outro lado, um setor específico desponta como grande destaque nesse cenário pessimista: a consultoria imobiliária, que vem registrando um aumento de suas demandas nos últimos meses. O motivo é simples. Preocupados com o sumiço dos compradores, proprietários e investidores se sentem cada vez mais inclinados a procurar suporte técnico na hora de fechar um negócio imobiliário.
A verdade é que, há seis meses, era muito fácil vender um imóvel, mas, agora, boa parte dos investidores estrangeiros sumiu. Neste momento, a ajuda profissional tem se tornado imprescindível para saber quais são as alternativas possíveis diante da crise e qual é o melhor caminho a ser adotado neste momento de incertezas. Ainda não é possível mensurar o aumento da demanda pelos consultores, mas a procura vem crescendo sensivelmente. Também é notório o acréscimo na procura por três serviços específicos: avaliação imobiliária, consultoria em venda e estudos de desenvolvimento imobiliário.
Algumas transações comerciais se destacam como as mais afetadas pela fuga de capitais, dentre elas, a chamada venda de investimento, sale&lease back (quando a pessoa jurídica troca sua posição de proprietária do imóvel, passando a ser locatária) e built to suit (construção sob medida para um locatário com contrato de longo prazo). São operações que envolvem remuneração de capital de um investidor interessado em um fluxo de locação. Em função da crise financeira mundial, mais especificamente da escassez de capital, o custo, ou seja, a porcentagem de remuneração para o investidor aumentou muito, tornando essas operações inviáveis.
Apesar de os especialistas acreditarem que esse é um cenário passageiro, a hora é de "precaução", já que a depressão da economia é conseqüência do acesso mais fácil ao dinheiro, que reduz a noção geral dos riscos. Tanto profissionais do mercado quanto cidadãos comuns se tornaram propensos a investimentos ousados, em busca de lucros altos e rápidos.
O mercado imobiliário dos EUA é um exemplo claro desse excesso de confiança. Em uma fase de expansão acelerada, com redução de taxa de juros para baratear empréstimos e financiamentos e encorajar os consumidores e empresas a voltarem a gastar, a demanda de imóveis cresceu, atraindo compradores. Após atingir um pico em 2006, os preços dos imóveis, no entanto, passaram a cair. Os juros do Fed (Federal Reserve), que vinham subindo desde 2004, encareceram o crédito e afastaram compradores; com isso, a oferta começou a superar a demanda e, desde então, o que se viu foi uma espiral descendente no valor dos imóveis. Com os juros altos, a inadimplência aumentou e o temor de novos calotes fez o crédito sofrer uma desaceleração expressiva no país como um todo.
Para que o herói também não se torne vilão por aqui, a idéia é assegurar linhas de crédito baratas para capital de giro, para permitir que empreendimentos já engatilhados possam ser transferidos a terceiros que queiram levá-los adiante. Esses recursos também podem possibilitar a fusão entre empresas e a compra de recebíveis (créditos) imobiliários das construtoras que investiram o capital próprio nos empreendimentos. Seja qual for a próxima movimentação do mercado imobiliário, é certo que grande parte das decisões de proprietários e investidores serão tomadas com base em uma visão mais profissional e menos impulsiva.