Dos R$ 10 bilhões anunciados em outubro pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, para injetar capital de giro nas empresas do setor de construção civil, apenas R$ 10 milhões foram contratados.
A informação foi dada à Agência Brasil pelo presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Safady Simão.
A crítica de Safady é direcionada principalmente à forma como a Caixa Econômica Federal conduziu a liberação do compulsório, anunciada por Mantega durante o 3º Encontro Nacional da Indústria (ENAI) em 2008.
"Aquilo foi uma vergonha. Na última reunião do comitê de recursos, eu novamente coloquei isso na mão do ministro. O governo havia liberado 5% da poupança. Isso significaria R$ 10 bilhões para capital de giro das empresas, de forma a aliviá-las da crise.
Desses R$ 10 bilhões, R$ 7 bilhões são de agentes privados e R$ 3 bi caberiam à Caixa.
Houve uma corrida das empresas para apresentar propostas. Rapidamente foram apresentados cerca de R$ 4 bilhões em propostas para serem analisadas", explicou.
"Na semana passada, tive a informação de que dos R$ 3 bilhões somente R$ 50 milhões teriam sido contratados. Depois fiquei sabendo que, na verdade, foram apenas R$ 10 milhões. Ou seja: nada", completou o presidente da CBIC.
O negócio, feito para resolver de forma emergencial o problema de capital de giro, não funcionou, segundo Safady.
"Eu falei isso para o ministro. Disse que era um absurdo porque acabou colocando os compulsórios numa situação pior, deixando-os mais caros e difíceis do que o que havia anteriormente".
De acordo com Safady, o governo alegou que o problema era decorrente de um travamento da Caixa, mas que iriam resolver. "Essa é até hoje a nossa expectativa", disse.
Por outro lado, o crédito nos bancos, apesar de travado para a maior parte dos setores, não afeta tanto o da construção civil.
"Nosso caso é diferente. Temos crédito compulsório decorrente da poupança, que tem uma aplicação obrigatória de 65% no mercado.
Se o banco não aplicar esse dinheiro, ele terá um rendimento muito baixo no Banco Central, de 80% da TR [a Taxa Referencial ], que está em cerca de 1,5%. Essa armadilha do BC força a aplicarem no mercado", explicou.
Mesmo assim, segundo Safady, os bancos têm burocratizado o processo de obtenção de créditos.`"O que sentimos é que os bancos estão mais seletivos. Um processo que eles levavam 15 minutos para analisar leva agora dois meses", afirmou.