O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta segunda-feira que o Brasil vai crescer neste ano, mas em taxas reduzidas. Segundo ele, o crescimento será auxiliado pelo governo, que mantém investimentos e estimula o consumo doméstico.
"Nós vamos crescer menos do que gostaríamos em 2009, menos do que poderíamos crescer se não houvesse crise externa. Mas nós cresceremos", disse Lula no seminário para investidores "Brazil Global Partner in a New Economy". Ele está acompanhado dos ministros Guido Mantega (Fazenda), Dilma Rousseff (Casa Civil) e Celso Amorim (Relações Exteriores).
Economistas vem reduzindo suas estimativas para o desempenho da economia brasileira em 2009, com bancos, como o Morgan Stanley, apostando em uma contração surpreendente de 4,5%. Segundo o Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira, o mercado brasileiro reduziu sua estimativa de expansão do PIB brasileiro em 2009 para apenas 0,6%. Mas Lula afirmou que o governo vai manter o estímulo "responsável" do consumo doméstico, enquanto realiza os investimentos necessários mesmo com a queda das receitas.
– Eu não vou cortar um centavo dos gastos sociais, nem dos investimentos em infraestrutura – disse, acrescentando que tais medidas vão assegurar uma recuperação rápida da produção industrial e a manutenção dos atuais níveis de emprego.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, falaram no seminário sobre as estratégias brasileiras para enfrentar a crise financeira internacional e destacaram as condições econômicas que, segundo eles, permitirão ao Brasil manter o crescimento em 2009 apesar da recessão global. Mantega também afirmou que o Brasil terá saldo positivo na criação de empregos neste ano.
"O Brasil espera ter saldo positivo na geração de empregos em 2009. Claro que não criaremos um milhão e meio de empregos como em outros anos, mas abriremos vagas", disse ele. O ministro comemorou a possibilidade de tomar medidas ofensivas num momento em que, em outras crises, a prática era se defender.
"Em outros momentos de crise, precisávamos subir juros para conter a saída de capitais, o que aumentava a dívida e baixava investimento e emprego. Hoje, não precisamos fazer isso. Estamos em condições de tomar medidas anticíclicas: baixar juros, aumentar crédito e baixar tributos e subir investimentos públicos".
Desafios – Em entrevista ao jornal Wall Street Journal (WSJ), que promove o seminário junto com o jornal Valor Online, o presidente afirmou que restabelecer o fluxo de crédito e reativar o comércio são os maiores desafios da economia mundial atualmente. Segundo reportagem do Wall Street Journal, Lula enfatizou na entrevista a urgência de resolver os problemas decorrentes da crise financeira e econômica que afeta o mundo.
"Temos um problema no mundo chamado crédito" disse Lula. "Precisamos restaurar o seu fluxo para reativar o comércio mundial".
Ainda segundo o jornal americano, o presidente brasileiro disse que os governos do G-20, que reúne as 20 maiores economias do mundo, estão estudando formas de reforçar o Fundo Monetário Internacional para que a instituição multilateral possa ajudar os países diretamente. Durante o fim de semana, autoridades econômicas dos governo do G-20 se reuniram em Horsham, Reino Unido, onde as linhas do plano foram anunciadas.
"Mas temos também de resolver as questões de confiança, e não sei como podemos restaurar a confiança até que possamos fazer alguma coisa em relação aos bancos ",disse ele.
Lula referiu-se às desgraças do setor bancário nos EUA e em outras nações desenvolvidas e disse ao WSJ que o encontro do G-20 em Londres, no dia 2 de abril, deve chegar a uma solução para o problema. O presidente afirmou que a falta de ação poderá resultar no mesmo que aconteceu com o Japão na década de 1990, quando o país levou um longo período para resolver os problemas em seu sistema bancário, perpetuando uma crise econômica à qual se seguiu o estouro da bolha no mercado imobiliário.
Lula disse também aos jornalistas que a classe média é quem mais está sofrendo com esta crise financeira atual. "Eles ganharam mais durante os anos de crescimento, os seus níveis de vida têm melhorado, eles também alcançaram direitos políticos e são os mais vulneráveis a perder o terreno conquistado".
Encontro com Obama – No sábado, Lula se encontrou com o presidente americano, Barack Obama, na Casa Branca. Após a reunião, os dois anunciaram a criação de um grupo de trabalho bilateral que vai apresentar propostas comuns sobre como restabelecer o crédito internacional, aumentar a confiança no sistema financeiro e recuperar as economias afetadas pela pior crise econômica vivida pelo Planeta desde a década de 30. As sugestões serão apresentadas na reunião de chefes de Estado e governo do grupo das 20 maiores economias do mundo (G-20), marcada para o dia 2 de abril em Londres.
Na coletiva após o encontro, o presidente americano disse que há pouco espaço para a redução do protecionismo durante a crise. Apesar de Lula ter reconhecido que o momento é pouco favorável, ele afirmou que a conclusão da Rodada Doha pode ajudar na solução da crise, o que voltou a defender hoje em seu programa de rádio.