Engrossando o discurso do governo do Estado e da Prefeitura de São Paulo, as construtoras também avaliam que o valor-teto para moradias do programa federal Minha Casa, Minha Vida direcionadas a famílias com renda de até três salários mínimos (R$ 1.395) não desperta o interesse do setor.
Para Sérgio Watanabe, presidente do SindusCon (Sindicato da Indústria da Construção) do Estado, se não houver doação de terreno na capital, "não vou dizer que nenhuma [casa], mas muito pouco" será construído. O limite fixado é de R$ 52 mil (apartamentos) e R$ 48 mil (casas) nas regiões metropolitanas de São Paulo e em Jundiaí, São José dos Campos e Jacareí.
"Mesmo que o construtor consiga adequar o valor do terreno no zero a três [salários mínimos], pela lógica econômica, ele vai fazer para acima de três porque tem possibilidade de ter um lucro maior do que só a construção", afirmou. Para ele, "agora é obrigação, não só do setor, mas de toda a sociedade, pressionar os entes políticos".
Outra possibilidade para esse público é financiar o imóvel pela Caixa Econômica Federal, e não depender da escolha de Estados e municípios, de acordo com os critérios de cada ente. Essa faixa de renda agora conseguiria arcar com as parcelas, avalia Watanabe, por causa do subsídio de R$ 23 mil do governo federal. Mas, nesse caso, o mutuário precisa ter o nome ‘limpo’, o que não é obrigatório para quem vai pagar ‘simbolicamente’ 10% da renda se for escolhido após o cadastro.
O presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), Paulo Safady Simão, ressaltou que a insatisfação com os limites para essa faixa de renda não é geral. "Certamente haverá algumas localidades em que vai ser mais difícil, mas há muita capital que está feliz com os preços", disse em evento do SindusCon-SP.
Segundo a secretária nacional de Habitação do Ministério das Cidades, Inês Magalhães, os tetos foram definidos conforme o valor dos terrenos nos dois últimos anos. "Neste momento, não vamos rever o preço, mas, certamente, se ele [o programa] não rodar, vamos ter que fazer algum mecanismo", afirmou, abrindo a possibilidade de majoração, o que já havia sido descartado pelo vice-presidente de governo da Caixa, Jorge Hereda. "Não há programa que não tenha ajuste."
Inês declarou ainda que os projetos já licitados e que, portanto, já têm recursos garantidos não serão aceitos. "Uma das diretrizes do programa é que tenhamos mais investimentos e não trocar os previstos com os recursos de outro ‘funding’ com os do Minha Casa, Minha Vida." Exceções só serão feitas "dentro de alguma situação específica".
O governo do Estado informou que tem 20 mil unidades que poderiam ser incorporadas ao programa, mas parte delas (o número não foi divulgado) já foi licitada. Já a Secretaria Municipal de Habitação contabilizou que tem seis terrenos para doar, sem detalhar localização ou tamanho.