O aumento do custo da mão de obra empregada na indústria da construção civil brasileira já bateu recorde em 2011. Isso sem que boa parte das obras da Copa de 2014 tenha começado. A previsão da indústria é que as construções relacionadas ao mundial comecem em 2012. De janeiro a agosto, a despesa com mão de obra cresceu 10,22%. É a primeira vez, desde 2008 – quando a metodologia de cálculo para esse indicador foi alterada-, que o percentual do crescimento do custo médio nacional da mão de obra alcança dois dígitos.
"Esse é, de longe, o indicador que mais tem puxado o custo global da construção civil nos últimos meses. A questão virou a principal preocupação do setor", diz Luís Fernando Mendes, economista da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
A razão para esse fenômeno é simples. A indústria desmobilizou a mão de obra no longo período em que houve escassez de projetos. A demanda por profissionais vem de várias frentes. Como os “puxadinhos”, que foram impulsionados pelo aumento na renda das famílias.
A oferta de crédito deu novo impulso à construção habitacional, turbinada pelo programa Minha Casa, Minha Vida. Obras de infraestrutura listadas no PAC começaram a sair do papel. Estádios, saneamento e mobilidade urbana para a Copa engrossaram a fila de projetos.
O setor da construção civil emprega atualmente 2,5 milhões de trabalhadores com carteira assinada. Estima-se que haja ainda outro 1,5 milhão de informais.
Hoje, a média salarial de um trabalhador da construção civil no Brasil é de R$ 1.398,80, segundo o IBGE. Na capital paulista, o piso salarial para trabalhadores não qualificados é de R$ 910,80 e o qualificado de R$ 1.086,80.
Mas a renda já alcança níveis maiores. Segundo o diretor de Economia do SindusCon-SP, Eduardo Zaidan, já há mestres de obras que ganham entre R$ 12 mil e R$ 18 mil em São Paulo, ou pedreiros com renda mensal de R$ 4.000 a R$ 5.000.
Sondagem
Pesquisa divulgada ontem pela CBIC e pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que a escassez e o custo da mão de obra são os dois gargalos que devem atrapalhar a execução das obras da Copa do Mundo.
"A indústria está treinando gente, mas ficamos dez anos parados. Agora o setor vive um novo ciclo que deve durar 10 anos", afirmou Renato Fonseca, gerente-executivo da CNI.
Diante dessa situação, o atraso nas obras da Copa do Mundo acabou sendo "providencial". De acordo com Mendes, do CBIC, a indústria da construção não teria como atender a demanda.
Da Redação, original Folha de S. Paulo.